A Qasa da mãe joana

Qá falta tudo
o que há não presta
falta vida
falta o mundo
porêm
Qá todos entram
quando e como querem


Qá nem sequer há lei
cada um costura
a que melhor lhe servirá
Qá ninguem impõe ordem
até porque Qá
ninguem precisa de alguma
para cometer um fratricidio


Qá tudo é natural e normal
tudo é licito
até os poluidores atmosféricos
que nos roubam a vida a médio prazo


Qá nada é banido
com nosso próprio sangue
custeamos a devassidão
pois alegra-nos
o título de familia solidária


o mesmo solícito
que eles transformam- no em aversão
quando lhes pedimos um copo d'água
cá todo mundo é bem-vindo
e é bem visto


Ditadores
Comunistas e Opressores
até porque nós é que os importamos
em nome da diplomacia
aqueles déspotas
que ontem os chamamos de Senhores
hoje vem menos violentos
e aQorrentam-nos os cérebros
aranQam crédito nossos pensamentos


no entanto
nòs nunQa renunciamos a exibição
do nosso titânico coração
coração de cristo
hoje amparamos até segregacionistas
camuflados em investidores
os mesmos deuses racistas
que ontem encarceraram-o vizinho Mandela
e puseram seus filhos
a lamber ossos com cães na mesma paleta


hoje nós os aQolhemos de bom grado
e fazem de nòs aqueles cães
e da vida de nossos filhos uma roleta
e acusam-os mesmos de anti-patriotismo
transformam os jardins do nosso lar
em praças de fascismo
e nòs Qomo filhos pacifistas
que assim nos educa a mãe joana
e que arma temos nòs para pensar em guerra?
mesmo com as chagas de uma parte de nòs como objecto
e outra como plateia daquele espetàculo Mussolinista
daquela exibição absolutista


sem remorsos esbanjamos sorrisos
dissipamos aplausos
pela subjugada independência!?
pela plena autonomia!?
incontestàvel soberania!?
como pròprios pilotos da nossa consciência!?
todos nós temos ciência
de que eles é que pensam por nòs
que passo devemos dar
até rezam por nòs


no entanto
no fim a benção fica com eles
e quem somos nòs para julgarmos
a nossos pròprios deuses?
e como ontem e sempre
permanecemos estacionados
na mesma paragem sombria

de braços atravessados
cérebros embalsamados
esperando que nos venha do céu a eterna euforia
ontem fomos exorcistas
a tudo quanto nos fosse nocivo repeliamos
e hoje que menos sofrimento mereciamos
tornámo-nos masoquistas.